Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães

Projecto Memória e Feminismos

Percursos de vida de mulheres no séc XX em Portugal

Introdução

A mudança de atitudes e de mentalidades no âmbito da igualdade de género revela-se uma questão fulcral nas sociedades actuais. As dificuldades com a aplicação das leis têm, muitas vezes, na base formas de pensar e de agir que travam os efeitos que se pretendem obter com as alterações legislativas.

A invisibilidade das mulheres, dos seus saberes, das suas experiências de vida, tem reflexos os no défice democrático em termos de equilíbrio entre mulheres e homens na esfera pública e privada e na construção de mentalidades onde a ausência de uma imagem valorizada das mulheres reproduz estereótipos de género.

Considera-se, ainda, que o fomento de um intercâmbio-intergeracional onde estas experiências e saberes possam chegar às escolas constituem não só formas acrescidas de valorização para as mulheres, algumas delas de uma faixa etária mais avançada, como de aprendizagens mútuas junto das novas gerações. No ano internacional do envelhecimento activo o trabalho junto destas mulheres representa também uma visibilização dos seus percursos de vida e uma valorização da sua auto-estima.

O projecto Memória e Feminismos – Percursos de vida de mulheres no século XX em Portugal, insere-se numa perspectiva histórica de valorização da memória das mulheres que, ainda vivas, têm contributos incontornáveis para a história dos movimentos de mulheres em Portugal. Trata-se de captar a voz das mulheres de várias regiões do país, interpretar novas fontes, romper silêncios, (re)significar os seus percursos, traçando a evolução das suas vidas no último século e visibilizando o seu pensamento e acção.

Projecto sem dúvida ambicioso, mas à altura de uma associação como a UMAR que tem mais de três décadas de história e que possui o Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães, um espaço de arquivo da memória histórica escrita e oral. Não pretendendo de algum modo equiparar este trabalho à grande reportagem que Maria Lamas fez nos finais da década de 1940, que resultou na obra: “As mulheres do meu país”, o sentido seria o mesmo – ouvir as mulheres, entender o que mudou nas suas vidas, nas relações de poder assimétricas que as subalternizam.

Michelle Perrot afirmava, em 1987, em artigo na Transvers, (nº40), que a ausência da memória escrita e oral das mulheres constituía uma lacuna nas fontes históricas primárias. A utilização de arquivos privados em torno da família e da intimidade, colocavam novas perspectivas na abordagem histórica. Para a autora, o desenvolvimento da história oral seria um desafio das mulheres contra o silenciamento das suas vozes na perspectiva dominante da história.

Este projecto insere-se num trabalho a médio prazo, constituindo-se como o arranque de uma primeira fase dirigida às mulheres de duas regiões do país: Minho e Madeira, seguindo-se outras fases: Açores, Algarve, Alentejo, Trás-os-Montes, Douro e Beiras. As grandes regiões metropolitanas de Lisboa e Porto constituiriam a última fase.

A UMAR, considera também que o tratamento e conservação de fontes orais são motivo de preocupação à medida que a sua utilização tem vindo a ganhar maior legitimidade na investigação histórica. Poderemos interrogar-nos se uma história dos movimentos feministas seria possível sem se recorrer às fontes orais: aos testemunhos, às vivências das mulheres que foram protagonistas desses mesmos movimentos.

Este projecto de história oral teria também como objectivo a possível recolha de documentos de arquivos pessoais das entrevistadas, que poderão ser valorizados através da digitalização de documentação, inserindo-a no Portal Digital do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães (UMAR). Este centro participou num projecto europeu em rede com 28 centros de documentação (EU 27+Croácia e Turquia).

A supervisão deste projecto caberá ao Conselho Consultivo do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães. (ver composição e currículos no site: www.cdocfeminista.org.)

Pretende-se que as entrevistadas para além de traçarem as suas histórias e percursos de vida expressem as suas opiniões sobre questões que marcam a actualidade no que se refere aos direitos das mulheres. As entrevistas serão conduzidas por associadas e voluntárias da UMAR, reduzindo assim os custos do projecto no que se refere à recolha das histórias e percursos de vida das entrevistadas que serão seleccionadas, mediante critérios estabelecidos pela equipa do Conselho Consultivo, que integra várias investigadoras na área dos estudos sobre as mulheres.

Descrição sumária do projecto

Recolha de histórias de vida de mulheres de várias regiões do país, no sentido de valorizar as suas experiências e saberes colocando-as na relação com as novas gerações através de sessões em escolas, autarquias e centros de cultura e convívio. No ano internacional do envelhecimento activo o trabalho junto destas mulheres representa também uma visibilização dos seus percursos de vida e uma valorização da sua auto-estima. Edição de vídeo, de brochura e de exposição itinerante. Realização de seminários de divulgação e de uma conferência sobre a construção e preservação da memória histórica dos feminismos. Realização de tertúlias sobre Memórias de Mulheres em tempos de ditaduras: Portugal (1926-1974).

Objectivos Gerais

1- Contribuir para uma mudança de atitudes e de mentalidades no âmbito da igualdade de género através da valorização do trabalho, dos saberes das mulheres e das suas experiências de vida.

2- Reflectir criticamente sobre os seus trajectos de vida, entendendo as mudanças registadas nas suas vidas e nos contextos sociais e culturais que as envolveram e envolvem.

3- Fomentar o intercâmbio de experiências e informações inter-geracionais ao nível das escolas e autarquias locais.

4- Contribuir para a preservação da memória histórica dos feminismos, pela voz de mulheres de diversos sectores sociais e de diferentes regiões do país.

Objectivos Específicos

1- Dar visibilidade ao pensamento e acção de mulheres ocultadas pelo discurso hegemónico.

2- Levar a voz das mulheres entrevistadas a escolas, autarquias locais, centros de convívio da terceira idade, colectividades.

2- Interpretar novas fontes, a partir das histórias orais e dos arquivos das entrevistadas, numa perspectiva de preservação da memória histórica dos feminismos.

3- Contribuir para a ligação entre diversos centros de documentação, procurando criar sinergias baseadas na preservação das fontes históricas relativas à valorização da memória histórica sobre as mulheres e os seus direitos.

Actividades

1- Realização de entrevistas a mulheres de diversas regiões do país, concentrando-se este projecto nas mulheres das regiões do Minho e Madeira.

2- Edição de brochura e vídeo baseados nas entrevistas realizadas e elaboração de uma exposição.

3- Realização de dois seminários – um na região autónoma da Madeira e um outro em Lisboa, no Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães (CDAFEG) para apresentação da brochura e do DVD.

4- Realização de sessões em escolas, autarquias locais, centros de convívio da terceira idade, colectividades.

5- Realização, em Lisboa, da Conferência: “Construir e preservar a memória histórica dos feminismos” com a participação dos seguintes centros: Centro de Documentação da CIG, Centro de Documentação da Universidade de Coimbra, Arquivo Histórico do ICS, Arquivo Histórico da Fundação Mário Soares, Arquivo Fotográfi e Hemeroteca da Câmara Municipal de Lisboa. Será convidada uma especialista em documentação de um centro de documentação europeu de referência.

6- Organização de diversas tertúlias temáticas no CDAFEG:

– Memórias de Mulheres em tempos de ditaduras: Portugal (1926-1974)
(todas as 4ºas feiras de 3 a 31 de Outubro de 2012 – organização de Natividade Monteiro e de Irene Pimentel)

7- Publicação das conclusões do seminário em CD-R no Portal Digital do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães www.cdocfeminista.org.

8- Publicação de um Folheto do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães alusivo ao tema do projecto “Memória e Feminismos”.

Resultados esperados

Uma maior sensibilização para a necessidade de intercâmbio entre as novas gerações e as mulheres que ao longo das suas vidas tiveram papel social, muitas vezes desvalorizado e invisibilizado.

Valorização da memória histórica dos feminismos através das vozes das mulheres entrevistadas, contribuindo para uma revalorização das fontes orais como instrumentos importantes para a investigação histórica.

Conseguir afirmar uma imagem positiva das mulheres no ano internacional do envelhecimento activo, motivadora da auto-estima de muitas outras mulheres.